Todos Podem
Por Cristovam Buarque
A maneira como o Brasil tem tratado a educação de suas crianças, ao longo de toda nossa história, é irracional e imoral. Irracional porque condena o futuro do País, em cuja base está um povo educado, capaz de desenvolver nossa ciência, nossa tecnologia, nossa cultura. Imoral porque condena a sociedade brasileira à desigualdade crônica se não for feita uma revolução na educação de base do País, desde a pré-escola até a pós-graduação. Os dados comprovam que essa irracionalidade e imoralidade são conhecidas. Não vale a pena ficar repetindo. Basta lembrar que nosso desempenho nessa questão está entre os piores do mundo, de acordo com todas as análises feitas por órgãos internacionais, como Unesco e OCDE.
A revolução educacional, a doce revolução feita com lápis e computadores, por professores e professoras, só será possível quando sucessivos governos nacionais assumirem a liderança, a coordenação e parte substancial do financiamento à educação básica. Mesmo quando isso acontecer, a educação não será responsabilidade apenas do setor público, ainda menos da União, nem somente da escola. A educação é um processo que requer o esforço de todos. Sem isso, não será viável nem será educação. De imediato, exige a participação de escola, família e mídia. Mas não dispensa a colaboração de cada setor da sociedade brasileira. Exige também, para dar um salto, que o governo federal dê o salto maior. E que cada setor faça sua parte desde já.
Nesse cenário, o setor empresarial tem um papel importante. Primeiro, do ponto de vista político. Cabe aos seus líderes usar a força de que dispõem para pressionar o governo, especialmente o governo federal, com o objetivo de forçá-lo a descobrir a importância da educação, a prioridade que ela merece e a importância da continuidade das políticas públicas.
Do ponto de vista da ação direta, cabe aos empresários, entre outras ações:
1. EM FAVOR DO SISTEMA EDUCACIONAL
¿Adote¿ escolas, ¿adote¿ professores, adote crianças em idade escolar. Perto de sua empresa há escolas que precisam de equipamentos e livros; professores que precisam de um incentivo, um prêmio; crianças que precisam de uma bolsa-escola (remuneração por mês sob condição de freqüência) ou poupança-escola (depósito em caderneta de poupança se o aluno for aprovado, sob a condição de que o dinheiro só poderá ser sacado quando ele terminar o segundo grau). O Banco de Boston desenvolve uma ação desta natureza em convênio com a ONG Missão Criança.
2. EM FAVOR DE SEUS EMPREGADOS
Crie no setor de gerência de recursos humanos um núcleo destinado a acompanhar a educação dos próprios empregados e de seus filhos e oferecer incentivos à educação, tais como: produção de cursos de alfabetização, primeiro e segundo grau, ou cursos técnicos, com liberação de horas de trabalho equivalentes às horas que o empregado diminui de seu período de lazer para dedicá-las aos estudos; incentivo os bons alunos, filhos dos empregados, quando eles forem aprovados e concluírem seus cursos médios.
3. EM FAVOR DOS CLIENTES
Com algum esforço de imaginação, praticamente toda empresa pode oferecer prêmios a alunos e professores que sejam seus clientes. Os supermercados, por exemplo, podem criar clubes de mães e de alunos e, além de prêmios, oferecer descontos nas compras. Políticas como essa devem fazer parte da rotina dos pacotes de marketing por meio dos quais as empresas se relacionam com seus clientes para vender institucionalmente seus produtos.
*Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT-DF
No hay comentarios:
Publicar un comentario